terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Palestina, atraso e não açodamento - por Clovis Rossi

A diplomacia brasileira merece todas as críticas que lhe têm sido feitas por causa do comportamento em relação à violações aos direitos humanos por diferentes países. Tanto merece que até Dilma Rousseff condenou a omissão no caso do Irã.

O problema é que, não raro, as críticas entram de contrabando, quando o Itamaraty faz o que deve ser feito. Caso mais recente: o reconhecimento do Estado palestino nas fronteiras vigentes até 1967.

Houve, primeiro, a crítica israelense de traição porque uma autoridade israelense acabara de conversar com diplomatas brasileiros e não fora avisada.Queixa no mínimo injusta, do que dá prova declaração ao "Jerusalém Post" de Danny Ayalon, que vem a ser vice-ministro do Exterior: ele disse que o próprio presidente Lula avisara tanto ao presidente Shimon Peres quanto ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu que o reconhecimento logo se daria. Foi na visita de Lula a Israel (e, depois, Palestina), nove meses atrás.

Segundo dado: o reconhecimento não é uma iniciativa pioneira -- e, portanto, potencialmente provocadora da diplomacia brasileira. Saeb Erekat, principal negociador palestino, lembrou na segunda-feira que 104 países reconheceram o Estado palestino desde 1988, quando os próprios palestinos fizeram o primeiro anúncio. Erekat diz que quase todos os 104 têm embaixadas palestinas.

Se houvesse uma crítica a ser feita seria, pois, ao atraso do Brasil, não a um suposto açodamento.



Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".

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